Nesta segunda-feira (10), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva completa 100 dias em seu terceiro mandato, sob sinais mistos nos principais indicadores financeiros.
Apesar dos investidores terem, em alguns momentos, dado um voto de confiança ao novo governo, ainda estão cautelosos à espera de ações mais concretas da política econômica.O Ibovespa, por exemplo, que havia recuperado os 114 mil pontos em janeiro, voltou a cair para perto dos 100 mil pontos nos últimos dias, atingindo uma faixa em que não estava desde julho do ano passado. No entanto, tanto o dólar quanto os juros futuros apresentaram melhoras significativas e estão nos melhores patamares do ano.
O economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, afirmou que a apresentação do marco fiscal por Fernando Haddad, ministro da Fazenda, que deve substituir o teto de gastos como mecanismo de controle do aumento das despesas e da dívida pública, ajudou a melhorar a curva de juros. Entretanto, Vieira acrescentou que os indicadores ainda estão oscilando bastante.
Após a boa vontade inicial dos investidores, que fizeram a bolsa subir e a curva de juros fechar, os mercados reagiram aos sinais do próprio governo de que não queria reformas e que poderia até revertê-las, além dos ataques a instituições como o Banco Central. Como resultado, o Ibovespa acumula queda de 7,9% no ano, considerando o fechamento até 5 de abril. Esse desempenho é o pior para um começo de governo desde o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, em 1995.
O analista de investimentos do Andbank Brasil, Fernando Bresciani, destacou que a economia lá fora está resiliente, sem o cenário de indefinição política e fiscal que temos no Brasil. Ainda falta confiança e previsibilidade, é isso que o mercado continua esperando do governo. O cenário atual é de economia fraca como risco elevado.
As expectativas para os juros, considerando a taxa do DI para janeiro de 2025, que começaram o ano acima dos 13%, cederam para a faixa dos 12% nos últimos dias, nas mínimas para o ano, após a apresentação do marco fiscal por Haddad. O dólar, que havia chegado perto dos R$ 5,30 em março, voltou para a casa dos R$ 5 na semana passada, também nas menores cotações do ano. No entanto, o desempenho da inflação, apesar dos choques recentes durante a pandemia, ainda deixa o novo governo de Lula no meio do caminho, com alta de 2% até a prévia de março medida pelo IPCA-15.
Embora os investidores estejam cautelosos, ainda há espaço para que o governo mostre ações concretas para impulsionar a economia do país. Resta saber se os próximos 100 dias serão suficientes para recuperar a confiança do mercado financeiro.
Os juros altos têm sido um dos principais alvos de Lula desde que assumiu. A Selic, taxa de juros de referência, é atualmente de 13,75%, a mais alta desde 2016. A variação do CDI em seus 100 primeiros dias é similar ao que Dilma, Michel Temer e o próprio Lula entregaram em mandatos anteriores: a taxa de juros bancária que acompanha a Selic acumulou variação em torno dos 3% nos 100 primeiros dias dos três ex-presidentes, e foi maior nos anos de Fernando Henrique e também no primeiro governo de Lula.
Lula começa seu terceiro mandato em meio a uma economia fraca, com altos índices de desemprego e uma pandemia em curso. O mercado financeiro tem se mantido cauteloso, apesar de algumas melhorias nos indicadores financeiros, como a queda do dólar e a melhoria dos juros futuros. A apresentação do marco fiscal por Haddad foi um passo importante, mas ainda falta confiança e previsibilidade por parte do mercado para que a economia do país possa decolar. Os próximos 100 dias serão cruciais para o governo Lula mostrar que está comprometido em fazer a economia brasileira crescer.