No próximo 6 de maio, o Rei Charles III será coroado monarca do Reino Unido em uma celebração de três dias que terá início com um culto religioso na Abadia de Westminster, onde o soberano receberá a coroa e os símbolos do seu reinado. No entanto, a coroação será marcada pela ausência da coroa da rainha-mãe, que foi usada nas últimas duas coroações.
Em vez disso, Camila, a rainha consorte, será coroada com a coroa da rainha Mary. O Reino Unido deseja evitar problemas diplomáticos com a Índia, que afirma ser a legítima proprietária do diamante Koh-i-Noor, que está presente na coroa da rainha-mãe. A coroa foi criada para a coroação do rei George 6º em 1937 e foi usada por sua esposa, a rainha Elizabeth, nas sessões inaugurais do Parlamento durante o reinado de seu marido e na coroação de sua filha, a rainha Elizabeth II, em 1953.
A história do Koh-i-Noor é tão misteriosa quanto controversa. Embora seja impossível saber quando ou onde exatamente o diamante foi encontrado, existem várias hipóteses e mitos sobre suas origens. Algumas teorias afirmam que ele é a lendária gema com poderes mágicos Syamantaka, dos contos do Bhagavad Purana sobre Krishna, um dos deuses mais populares do panteão hindu. Theo Metcalfe, um britânico que recebeu a ordem de compilar a história oficial do Koh-i-Noor em Déli em 1849, documentou que, segundo a tradição, “o diamante foi extraído durante a vida de Krishna”. No entanto, isso é apenas uma teoria.
O Koh-i-Noor passou de geração em geração de famílias poderosas e também foi roubado, disputado e passou por todos os tipos de truques durante séculos. Em 1739, o governante persa Nader Shah invadiu a Índia e roubou um tesouro tão grande que dizem que foram necessários 700 elefantes, 4.000 camelos e 12.000 cavalos para carregá-lo. O trono mogol fazia parte do espólio e o Koh-i-Noor foi removido do trono e colocado em uma pulseira que Shah carregava consigo. Durante décadas, o diamante permaneceu no país que se tornaria o Afeganistão, passando de governante a governante em batalhas encharcadas de sangue. Em 1813, ele estava de volta à Índia e passou por uma miríade de dinastias, invasões e líderes que estabeleceram seus reinos e feudos naquelas terras.
A Companhia Britânica das Índias Orientais, que conquistou áreas da Índia, ouviu rumores sobre uma peça de valor inestimável chamada Koh-i-Noor e partiu em sua busca. Em 1849, o último governante sikh do Punjab entregou o diamante aos britânicos como um presente em troca da segurança para si e sua família. A partir daí, o diamante Koh-i-Noor tornou-se objeto de disputa entre a Índia e a Grã-Bretanha. Em 1849, após a Segunda Guerra Anglo-Sikh, a pedra foi entregue à Rainha Vitória da Inglaterra como parte de um tratado de paz. Desde então, o Koh-i-Noor faz parte das joias da coroa britânica e é considerado uma das pedras preciosas mais famosas do mundo.
Ainda hoje, a propriedade do Koh-i-Noor é objeto de controvérsia. O governo indiano e outros países que reivindicam a joia argumentam que ela foi tomada à força da Índia durante a colonização britânica e que deveria ser devolvida. No entanto, a Grã-Bretanha argumenta que o diamante foi legalmente adquirido e que sua propriedade é incontestável.
Apesar da polêmica, o Palácio de Buckingham decidiu evitar um possível conflito diplomático e não utilizar a coroa da rainha-mãe na coroação da rainha consorte Camila, esposa do futuro rei Charles 3º. A coroa da rainha-mãe contém o Koh-i-Noor, e sua utilização na cerimônia poderia ser vista como uma afronta pelos países que reivindicam a propriedade da joia.
A decisão do Palácio de Buckingham foi recebida com opiniões divergentes. Alguns especialistas em joias da coroa britânica lamentam a ausência da coroa da rainha-mãe, considerada uma das mais belas e importantes da coleção. Outros argumentam que a decisão foi sensata e que evitar conflitos diplomáticos é fundamental em uma cerimônia tão importante quanto a coroação de um monarca.
Independentemente das opiniões sobre a utilização da coroa da rainha-mãe na coroação de Camila, o Koh-i-Noor continuará sendo uma das pedras preciosas mais famosas e polêmicas do mundo. Sua história de disputas, roubos e passagem por diversas culturas e governantes faz dele um objeto de fascínio e mistério para muitos, e uma fonte de conflito e controvérsia para outros.