Tem se tornado habitual notícias acerca de acidentes, invasões, expulsões e confusões que cercam as enormes massas de imigrantes e refugiados em situação de desespero pelo mundo. Ontem (12/03), centenas de imigrantes e refugiados, em sua maioria venezuelanos, invadiram a fronteira dos EUA com o México.
Os imigrantes venezuelanos queriam pedir asilo nos EUA. As cenas de pais a carregar seus filhos pequenos assustados, chorando, em seus ombros em meio ao tumulto, gritaria e correria, varreram o mundo e novamente trouxeram à tona as discussões acerca da imensa e histórica crise humanitária de refugiados e de imigrantes em todo o mundo.
Muitos imigrantes com crianças pequenas estão frustrados com problemas para agendar consultas para solicitar asilo, usando um novo aplicativo do governo dos EUA. Eles reclamam do processo de asilo que o governo Biden disponibilizou por meio do aplicativo CBP One, que, segundo eles, está cheio de falhas e alta demanda, deixando-os no limbo, em regiões de fronteira perigosas e inóspitas.
Também ontem, o Reino Unido iniciou um ciclo de discussões para o endurecimento das políticas de imigração ao país que tem sido alvo constante de imigrações ilegais através das fronteiras da França por meio do Canal da Mancha.
No final de 2022, a França também tomou medidas mais austeras para frear o fluxo imigratório para suas fronteiras por meio da retomada da exigência de vistos de entrada para quase todas as nacionalidades estrangeiras.
Será mesmo essa a melhor medida que os países mais ricos do mundo podem tomar acerca da crise imigratória global? Será que não está faltando um pouco de empatia dos governos em perceber que nenhuma pessoa se colocaria desnecessariamente em situação de alto risco ao fugir de seu país natal, apenas com as roupas do corpo, deixando para trás toda sua história, rumo a um futuro incerto, caso não fosse drasticamente inevitável?
A intensificação da crise migratória mundial nos últimos anos se deu em razão do crescimento do número de pessoas fugindo de conflitos, perseguições e pobreza extrema em seus países de origem. As guerras civis, desastres naturais, violência de gangues, regimes autoritários e perseguições têm sido os principais motivos geradores da crise mundial de refugiados e imigrantes.
Imigrar ou expatriar em condições normais, ou seja, por razões profissionais, educacionais ou por outros motivos em posição favorável, com planejamento prévio e preparo, já é algo extremamente complexo. Imaginar que pessoas fazem isso por ser esta sua única chance de sobrevivência, deveria ser motivo suficiente para envolver todos os países em uma ação global, humanitária, de apoio à imigração.
Entretanto, pode ser que a solução para essas crises não seja apenas oferecer abrigo e guarida a essas pessoas, mas sim, envolver a diplomacia de todos os países que recebem esses imigrantes em uma grande iniciativa diplomática mundial, com intuito de resolver as questões primordiais que geram esse excessivo fluxo imigratório.
A crise migratória mundial é uma das maiores questões humanitárias da nossa época e exige soluções colaborativas entre países e organizações internacionais para garantir a proteção e os direitos humanos dos imigrantes, refugiados e dos países acolhedores.
Devemos atentar às condições precárias dos acampamentos de refugiados e dos centros de acolhimento ao redor do mundo. As débeis condições desses locais têm aumentado a preocupação de órgãos como a OMS – Organização Mundial da Saúde, para o aumento do risco de propagação de diversas doenças.
Outra iminente preocupação é acerca da possibilidade de cruzamento entre cepas de vírus regionalizados. Por exemplo, cruzamento de cepas de influenza do Oriente Médio com cepas de influenza das Américas, e possível surgimento de novos vírus e bactérias mais resistentes.
Neste momento, em que estamos a começar a retornar às atividades normais após a pandemia do Covid-19, o surgimento de uma nova pandemia seria algo absolutamente nocivo à humanidade. Esse já seria um ótimo motivo para colocar a crise migratória mundial como um dos temas mais críticos e urgentes a ser resolvido.
Entretanto, não vemos uma ação conjunta mundial acerca dessa urgente situação. O que vemos são países ricos tomando medidas cada vez mais rígidas para conter a entrada desses “indesejáveis” em seus territórios sem que nenhuma ação mais ampla seja feita para conter esse fluxo migratório e mitigar possíveis perigos com a saúde mundial.
É importante percebermos que essa grave situação da crise migratória global é uma questão que já envolve a todos, toda a humanidade, e não somente os países afetados. É urgente que algo seja feito prontamente. Precisamos dar um passo além das discussões e reuniões entre líderes de países ricos para ações mais concretas de resultados a curto, médio e longo prazo.
Até quando ficaremos como espectadores desse circo de horror sem que algo efetivo seja feito? O que falta aos líderes mundiais? Empatia, coragem, vontade ou preparo?
Colunista de assuntos internacionais do UDataNews