Embora os casos de COVID-19 tenham apresentado quedas no último ano, a doença ainda é a que mais leva à óbitos no Brasil. Doenças como infarto do miocárdio, isquemias e neoplasias (tumores), foram as pincipais causas de mortes na última década. Entretanto, somente nestes dois últimos anos, a COVID-19 superou os números de uma década dessas principais doenças.
Apesar da queda na mortalidade, a Covid ainda se mantém entre as cinco principais causas de óbito no Brasil, segundo resultados apresentados pelo Data Folha com dados do SIM (Sistema de Informação de Mortalidade) do Ministério da Saúde.
No início da pandemia em 2020, foram constatados 194.976 mortes por COVID, já se tornando a principal causa de morte entre os demais tipos (incluindo causas externas, como acidentes e mortes violentas). O mesmo quadro se repetiu em 2021, quando 424.133 óbitos foram causados pela doença.
Entretanto, em fevereiro de 2022, a Covid deixou de ser a principal causa de morte no país, ocupando então o segundo lugar. As doenças cardiovasculares se tornaram a principal enfermidade fatal no Brasil.
No mês seguinte, em março de 2022, a COVID atingiu a sexta posição. Doenças isquêmicas do coração, AVCs, dentre outras doenças cardiovasculares e infecções respiratórias superaram os números de óbitos da COVID.
De acordo com especialistas infectologistas, este cenário se deve principalmente ao avanço da vacinação.
“Certamente não estamos vendo aqueles números elevados de mortes [por Covid] como a gente tinha antes“, diz a demógrafa, professora na Universidade Harvard Márcia Castro. “Para ter esse patamar de volta, só com um outro patógeno ou alguma variante que escapasse totalmente de anticorpos.“
Márcia Castro destaca que, apesar da diminuição das mortes por COVID, ainda não é possível prever qual será o patamar anual de óbitos da doença.
“Acompanhando as hospitalizações por SRAG [síndrome respiratória aguda grave] por Covid conseguimos estimar a mortalidade de acordo com a tendência nos últimos meses, mas ainda não temos esse número fechado.“
A pesquisadora ressalta que as diferentes coberturas vacinais de reforço na população podem contribuir para a diminuição desses números.
“Em um cenário hipotético em que todas as pessoas recebam os reforços, mesmo assim a mortalidade não vai ser zero, sempre vai existir uma taxa de mortes, mas ainda há muito atraso vacinal no país.”
Apesar da OMS (Organização Mundial da Saúde) ainda não ter categorizada a pandemia como extinta, os percentuais totais de mortes anuais por Covid no Brasil cairam muito nos últimos meses atingindo seu valor basal. O auge das mortes pelo Coronavirus no Brasil ocorreu em abril de 2021 com 41,85% das mortes no país gerada pelo vírus. Em setembro de 2022, quando foram disponibilizados os últimos dados acerca da pandemia, as mortes por COVID representaram 1,89% dos óbitos, dado bem similar ao que se registra de mortes por homicídio (1,8%), por exemplo.
“Nós tivemos dois picos terríveis que foram em maio de 2020 e depois nos primeiros meses de 2021, mas depois disso a mortalidade foi reduzindo, de tal forma que hoje nós estamos voltando ao nosso patamar basal“, explica o epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da USP Paulo Lotufo.
O epidemiologista Paulo Lotufo ressalta que os efeitos da Covid em conjunto a outras doenças, podem ainda não ter sido notados.
“O excesso de mortalidade nos dois primeiros anos e ainda em 2022 devido à Covid foi direto, mas a pandemia pode ter provocado uma redução na sobrevida de pacientes com câncer que acabaram morrendo antes do tempo. Por isso, os efeitos nas outras causas de morte ainda estão em observação“, afirma o epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da USP Paulo Lotufo.
A demógrafa, professora na Universidade Harvard, Márcia Castro, conduziu estudo que aponta uma redução na expectativa de vida global em cerca de 1,8 ano. Entretanto, no Brasil esse número chegou a 4,4 anos, conforme estudo da professora Márcia Castro.
“A Covid certamente teve um impacto nas mortalidades por outras causas, mas enquanto em algumas reduziu [porque tiveram menos mortes por aquela causa], em outras ela aumentou, como diabetes e doenças renais. Ela [Covid] não é uma causa de morte independente“, diz a demógrafa.
Dados dos CDC (Centers for Disease Control and Prevention), órgão governamental dos Estados Unidos da América, que faz parte do Departamento de Saúde e Serviços Humanos do governo federal dos EUA, a doença que mais teve mortes associadas com a Covid foi diabetes. Um estudo mostrou que 40% dos pacientes diabéticos internados por Covid morreram pela doença, e a taxa de pessoas com diabetes cresceu nos últimos dois anos.
“O custo da saúde será ainda muito maior, porque se antes tínhamos um total de pessoas a cada ano que necessitavam de hospitalização e atendimento médico, agora é muito maior. E, infelizmente, não temos critérios bem definidos para avaliar as sequelas de Covid“, diz a ex-diretora do Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis e Promoção da Saúde do Ministério da Saúde, Fátima Marinho.
Podemos já perceber que a COVID acabou por se tornar mais um dos vírus que teremos que lidar continuamente como o influenza e outros. É importante que os estudos e pesquisas continuem a serem realizadas para que tratamentos e medicamentos sejam criados, não somente para reduzir as mortes mas, também diminuir as sequelas e doenças associadas.
Colunista de assuntos de saúde do UDataNews