O governo brasileiro, liderado pelo presidente Lula, optou por não assinar a declaração final da Cúpula pela Democracia de 2023, promovida pelo governo dos Estados Unidos. A cúpula teve como objetivo reforçar a democracia global e confrontar o autoritarismo, mas o Brasil discordou do foco dado à guerra na Ucrânia na declaração final, que condena a Rússia e exigia a retirada imediata de todas as suas forças militares do território ucraniano.
Fontes do Itamaraty afirmam que a posição do governo brasileiro considera que a Cúpula pela Democracia não é o fórum ideal para discutir a guerra e que as discussões devem acontecer apenas no âmbito da ONU e de seu Conselho de Segurança.
O presidente Lula não participou das discussões da cúpula, inicialmente porque estaria na China, que não foi convidada para o evento. Posteriormente, sua participação também não aconteceu porque ainda se recuperava de pneumonia, que forçou o adiamento da viagem a Pequim. Na carta enviada aos organizadores, Lula citou a ameaça de uma nova Guerra Fria entre o Ocidente liberal e países autocráticos, como a Rússia e a China, sem mencionar nenhum país especificamente. Ele ressaltou que a defesa da democracia não pode ser utilizada para erguer muros ou criar divisões.
O Itamaraty negou que a recusa do Brasil em assinar a declaração possa criar problemas com os Estados Unidos e argumentou que Washington sabe reconhecer a política externa independente do Brasil. Os diplomatas brasileiros destacaram que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, já convidou Lula para outra cúpula virtual sobre mudanças climáticas, que deve acontecer em abril.
Essa decisão do governo brasileiro de não assinar a declaração final da Cúpula pela Democracia gerou críticas de alguns setores políticos no país. O deputado Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, afirmou que a posição do Brasil foi “uma clara demonstração de subserviência à Rússia e China“. Já o líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Rodrigo de Castro, avaliou que “o Brasil perdeu a oportunidade de se posicionar como um defensor da democracia no cenário internacional“.
Por outro lado, outras vozes apoiaram a decisão do governo brasileiro. O senador Renan Calheiros, presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, elogiou a postura do Itamaraty e afirmou que o Brasil não pode se submeter à agenda de outros países. O ex-chanceler Celso Amorim também defendeu a posição brasileira e argumentou que o país não deve se envolver em disputas geopolíticas que não dizem respeito diretamente aos seus interesses.
Em meio a essa controvérsia, a posição do Brasil evidencia a complexidade da política externa do país e os desafios que enfrenta para conciliar seus interesses nacionais com as demandas e pressões da comunidade internacional.